Convento de Sta. Rosa do Lima

Em 1630, por iniciativa de algumas pessoas piedosas, e nomeadamente do padre frei Sebastião, prior em S. Domingos de Viana, procedeu-se em Guimarães à fundação de um recolhimento, onde pudessem viver honesta e clausuradamente algumas donzelas, na observância da regra do príncipe dos pregadores. Para tal fim, e por meio de esmolas, compraram-se pequenas casa, e algumas terras, na rua Travessa, hoje de Santa Rosa de Lima: e aqui viveram em recolhimento, dedicado a esta santa virgem, algumas poucas senhoras, até que em 1680 obtiveram da confraria da Senhora da Graça, a qual era administradora do antigo hospital ou albergaria de S. Roque, a cedência das casa deste hospital, com a sua capela e hortas, tudo nesta mesma rua, para ali viverem colegialmente e em clausura, e professarem os três votos da sua religião. Disto se lavrou escritura pública a 3 de Fevereiro do mesmo ano, com a aprovação do provedor da comarca, ficando os confrades com o encargo da administração dos bens da confraria e hospital, e elas com obrigação de comprarem casas, com capacidade bastante para o recolhimento dos pobres, no modo como este hospital estava obrigado.
Estas casas são as que estão hoje junto do convento, no lado sul, pois que nestas ainda actualmente existem dependências reservadas, para se dar agasalho aos passageiros pobres que ali queiram recolher-se, e ficar nelas por três dias; pertencendo-lhe também ainda outras casas, onde hoje está levantado o mirante do convento. Ficando as recolhidas, em virtude deste contracto, senhoras do hospital, que existia de tempos imemoriais, tomaram nesse mesmo ano o hábito das mãos do prior de S. Domingos, de Guimarães: e em número de dez fizeram entrada solene na sua nova casa ou conservatório, acompanhadas por uma grande parte do povo desta antiga vila, magistrados régios e nobreza, havendo para tal fim precedido licença do Ordinário. No ano seguinte, professaram perante o provincial frei Agostinho de S. Tomás, ratificando então expressamente os votos de obediência, pobreza e castidade, e jurando guardar perpétua clausura. Constituídas assim em comunidade regular, ali viveram as freiras até o primeiro quartel do século passado, principiando então a desenvolver as obras do convento, até ali pequeno e pobre. Em 1725, sendo prioresa a madre Catarina das Chagas, levantaram-se os muros da cerca, que custaram 644$475 réis e mandou-se tirar a planta do mosteiro; sendo encarregado deste serviço frei Pedro da Conceição, carmelita descalço, mestre arquitecto. A 31 de Março de 1727, ocupando o priorato a mesma senhora, lançou-se a primeira pedra ao primeiro dormitório da parte sul do convento. Esta pedra foi benzida e colocada pelo prior frei António de Santa Rosa no alicerce da parede do corpo do dormitório da parte do poente, 55 palmos do cunhal do sul para norte. Com o andar dos tempos surgiram entre as religiosas e os confrades dificuldades e dúvidas, porque aquelas eram as senhoras do hospital e doutras casas, foreiras ao mesmo tempo, que haviam comprado para o alargamento do convento; e os confrades eram os administradores, como se contrataram na primeira escritura. Neste estado de coisas alcançaram elas uma provisão del-rei D. João V, em 6 de Novembro de 1733, em consulta do desembargo do paço de 9 de Setembro do mesmo ano, para fazerem com os confrades um novo contrato: e em virtude de tal provisão, e estando de acordo ambas as partes, entre elas se lavrou escritura pública pelo tabelião Brás Lopes, a 14 de Setembro do ano seguinte, sendo prioresa soror Mariana da Encarnação: e nela se assentou, que as freiras tomassem, como administradoras, conta de tudo o que pertencia ao hospital de S. Roque, e confraria da Senhora da Graça; tomando a seu cargo todas as obrigações, encargos e legados a que esta confraria estava sujeita.
Desta escritura se vê, que o hospital constava duma casa, com quatro alcovas para os pobres, e uma chaminé para o lume; e que nele havia uma campainha, com a qual o hospitaleiro era obrigado a encomendar as almas todos os sábados à noite, nos sítios do costume; e finalmente que aos confrades, administradores do hospital, se davam dez tostões para uma merenda em todos os anos. Crescendo pelo correr dos tempos o número das freiras, e com estas as rendas da casa e a necessidade de a ampliar ainda mais, compraram as religiosas novos prédios para o lado norte, em 1737; e deram então ao seu convento a extensão e forma em que hoje se vê. Em Agosto de 1733 estava feito já o dormitório grande sobre o refeitório e cozinha, o dormitório pequeno sobre a casa do forno, sacristia nova até à altura da fresta, importando toda esta obra
4:793$939 réis: e em 1734 estava a igreja concluída de pedra, custando com o mirante 4:636$355 réis. As obras de madeira na mesma igreja foram feitas em 1736, sendo prioresa a madre Mariana da Encarnação, e o retábulo do altar-mor, debaixo do risco do mestre portuense José de Afonseca Lima, custou 650$000 réis em 1741, sendo prioresa a madre Maria de Jesus, que em 1745 mandou fazer igualmente os altares laterais.
Em 1737 obtiveram do pontífice Clemente XII a graça de usar de véu preto e capa da mesma cor, e passar para a segunda regra do patriarca S. Domingos, sujeitas sempre no espiritual à jurisdição do provincial da sua Ordem. Todavia tal jurisdição passou em 1747 para os arcebispos de Braga, por determinação do arcebispo D. José de Bragança, quando se achava de visita aqui em Guimarães. Em 1776, recorreram as freiras ao pontífice Pio VI, para lhes confirmar a graça do véu preto, com as condições do primeiro Breve; autorizando-lhes a mudança para a jurisdição dos arcebispos, e ser o número das professas elevado a quarenta. E sendo-lhes conferidas tais graças, receberam outras noviças o véu com toda a solenidade, das mãos do vigário geral, por ordem do arcebispo D. Gaspar de Bragança, a 24 de Junho de 1777.
Este convento que hoje conta apenas três freiras professas, era muito procurado noutro tempo; sendo sempre muito conhecido pelo excelente doce de fruta, e mimosos trabalhos em linha, que ali se manufacturavam e exportavam para fora do reino, principalmente para a Inglaterra e Brasil, onde eram muito apreciados: e por isso constituíam em épocas passadas, um dos ramos mais produtivos e notáveis da indústria vimaranense.

Texto de Padre António José Ferreira Caldas

Sociedade Martins Sarmento

CICP - Fundação

1974. Abril em Portugal.

Constituídas que foram as Comissões de Moradores da rua D. João I e bairro Catarina Eufémia, desde logo se aperceberam da grave e precária situação das crianças da zona. Filhos de trabalhadores, na sua quase totalidade, eram “ lançados ” para o único local de recreio existente, a sinuosa rua, constantemente atravessada por automóveis, e os esgotos infectos e mal cheirosos das “ ilhas “ circundantes.

Urgia pois pôr cobro a tal situação!

Para o efeito, escolheu-se o antigo Convento das Dominicas, um belo e sólido edifício do início do século XVIII, que servira de albergue a algumas famílias deslocadas da desaparecida rua do Sabugal e posteriormente escola primária, estando na altura desactivada pelo seu interior não oferecer condições mínimas de segurança.

Contactada a então Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Guimarães, proprietária do imóvel, esta, reconhecendo a importância e justeza do pedido, cedeu-nos o edifício.

Começou então, toda uma série de obras de restauro e beneficiação, executadas pelos moradores, voluntariamente.

Em 17 de Novembro de 1975, e após intenso trabalho, quase sempre prolongado até altas horas da noite, abriu as suas portas à comunidade o recém-nascido, C.I.C.P. -Centro Infantil e Cultural Popular.

A legalização viria a ser obtida cerca de dois anos mais tarde, com a publicação dos estatutos no Diário da República de Julho de 1977.


Actividades

Para ultrapassar as carências atrás enunciadas, principal objectivo desta associação, criaram-se secções específicas, com planos de acção para intervir nas áreas consideradas prioritárias.

Assim, para além da secção de apoio ao infantário, surgiram as secções de Alfabetização, Teatro, Canto e Animação Cultural. Desenvolveu-se então, um vasto e variado programa de actividades, algumas das quais inéditas em Guimarães. Do teatro de rua e intervenção, à venda de livros, dos colóquios à projecção de filmes, dos espectáculos de canto à venda de produtos – do produtor ao consumidor, das festas para crianças às festas culturais nas freguesias, do planeamento familiar à fotografia, da Circultura – dois meses de espectáculos numa tenda de circo, ao Festag – Festival de Teatro de Amadores em Guimarães, tudo se realizou como forma de contribuir, denodada e generosamente, com a nossa quota parte, para a construção de uma sociedade melhor.

Para desenvolver as suas actividades e de outras associações, e dada a inexistência de espaços, o CICP, em colaboração com a Câmara Municipal e Patronato de S. Sebastião, desenvolveram um projecto para o aproveitamento dos terrenos anexos, ex-horto municipal, que pressupunha a construção de um auditório cultural, com capacidade para 300 pessoas. Infelizmente, embora houvesse projecto, os apoios concedidos não permitiram a realização deste objectivo, ainda hoje necessário.

A não edificação do auditório, e as grandes dificuldades criadas sempre que o CICP solicitava outros espaços - que, embora precários e sem grandes condições técnicas, permitiam o desenvolvimento da nossa actividade - inviabilizou a realização de algumas iniciativas, criando desanimo, frustração e algum abandono.


Presente


Volvidos vinte e cinco anos, naturalmente que o quadro de necessidades no campo cultural está completamente alterado. Aquilo que até um determinado período era assumido pelas associações, passou a sê-lo, salvo raras excepções, pela Câmara Municipal de Guimarães, que para o efeito se apetrechou de meios técnicos e humanos, com capacidade para promover anualmente uma vasta e variada oferta cultural.

Tendo em conta esta realidade, e não contando já com o infantário, que teve que ser encerrado por falta de condições de segurança, ao CICP restava já um campo de manobra bastante limitado para competir com os eventos culturais já institucionalizados, tendo necessariamente que apontar noutras direcções, ainda por explorar, mas enquadradas nas necessidades e preocupações actuais dos nossos jovens.

Assim surgiu a secção Acasos da Rua, formada por grupos de jovens informais com vontade de intervir directamente numa oferta cultural alternativa.

O grupo de Teatro Acasos da Rua, tem mantido a sua actividade com alguma regularidade, apresentou os espectáculos “Febre” e “Correspondência” e participa com performances nas inaugurações de outros eventos da secção.

A realização da primeira Mostra de Gravura Contemporânea, a primeira Mostra de Fanzines, exposições de pintura, fotografia, com laboratório a preto e branco, debates, um atelier permanente de artes plásticas, uma banda de garagem, são as actividades que actualmente desenvolvemos com frequência.

Tendo em consideração que apostamos na atracção e dinamização de grupos informais, criamos um Quiosque de Fanzines, nas nossas instalações, com a intenção de promover o encontro e debate entre o público amante desta modalidade, bem como local de venda e edição. Inaugurado no passado dia 20 de Maio, contou com a apresentação do ultimo número da revista Bíblia, com a presença do editor Tiago Gomes, tendo o programa de inauguração contemplado iniciativas locais: no dia 26 foi lançada a primeira zine Peste, editada pelo Quiosque e produzida por jovens da casa e no dia 2 de Junho realizou-se um debate intitulado A Sul de Nenhum Norte - Projectos alternativos em debate, com a participação de José Casimiro Ribeiro, Rui Victor Costa, José Bastos e João Salgado.

A Tertúlia Nicolina é a denominação adoptado pelo grupo de velhos nicolinos que se assumiu como defensor da tradição nicolina. Formado por antigos estudantes de estabelecimentos do ensino secundário de Guimarães, o objecto da tertúlia é a actividade cultural, recreativa e social, preferencialmente relacionada com as seculares Festas Nicolinas, contribuindo para sua a preservação, organização, promoção e valorização.

A sua ligação ao CICP, deve-se acima de tudo, ao seu cariz informal, enquadrando-se perfeita e mutuamente com os objectivos desta associação, criando uma parceria numa nova área de actuação.

A preocupação, constante e permanente, do CICP na formação dos jovens leva igualmente a associação a equacionar modelos de intervenção alternativos, com o recurso, sempre que possível, a novas fórmulas de promoção das actividades. Neste âmbito se insere a bem sucedida exibição do documentário sobre a Batalha de São Mamede (da autoria de José Hermano Saraiva e produzido pela RTP) que juntou jovens em sessão informal e pedagógica sobre aquele que é considerado o momento primeiro da formação da nacionalidade.

A ultima realização, a Esapart IV, mostra de trabalhos dos alunos finalistas da Escola Superior Artística do Porto (ESAP), Extensão de Guimarães, que terminou no passado dia 21 de Julho, teve o privilégio da visita do Delegado Regional do Instituto Português da Juventude, Manuel Dias de Barros, que enalteceu a importância da ligação estabelecida entre o CICP, os jovens e a ESAP.

Aquando da visita do Delegado Regional este reuniu informalmente com a direcção do CICP, na perspectiva da troca de ideias e contactos a estabelecer no futuro tendo em vista a realização de parcerias entre o CICP e o IPJ. A possibilidade da formação de monitores culturais em diversas áreas, e o recurso a inúmeros programas do IPJ são apostas a ter em conta num futuro próximo, com vista à atracção de jovens para a ocupação salutar dos tempos livres com inegáveis contributos para a sua formação.

O CICP tem trabalhado em projectos que são pouco mediáticos mas que são importantes no apoio à juventude e no desenvolvimento de áreas culturais ditas "alternativas" ou "marginais", no sentido de fugirem àquilo que é dado como comum.